quinta-feira, 3 de julho de 2014

NÓS, OS LINCHADORES

Contrariando Sartre, o Inferno somos nós.
Nós linchamos essa mulher, Cláudia. Eu, você e toda a sociedade hipócrita da qual fazemos parte.
Linchamos ela com o nosso silêncio covarde diante de todas as atrocidades impostas ao povo, que assistimos calados.
Nós a matamos com a nossa tal consciência tranquila.
Chutamos a cara dela quando aceitamos que os políticos corruptos estão acabando com o país, quando, na verdade, somos nós que devíamos acabar com eles. Quem é a maioria? Eles ou nós?
Nós admitimos a educação pública falida, a saúde precária, a falta de segurança, cultura, lazer, comida, água, e depois fazemos cara de perplexos quando tudo isso acontece  bem na frente da nossa cara. Somos todos revolucionários da internet. Ou vai me dizer que é tudo culpa do funk ostentação, do futebol ou do carnaval?
Nós a socamos quando lavamos as mãos no sangue que parece não correr mais em nossas veias.
Batemos na cara dela quando pedimos para Deus o que nós mesmos podemos fazer, mudar esse país. Linchar o medo de nossos lares.
Não me venham com essa, que nós não temos nada a ver com isso, que a culpa é do governo, do vizinho ou da puta que o pariu.
Nós voltamos à época medieval porque temos medo do futuro. Criamos um novo tipo de religião: não tenho nada a ver com isso no reino de deus.
Pecado é ser covarde. Eu sou, você é, nós somos.
O sangue dessa mulher está em nossas mãos, unidas ou não.
Não há nada de ruim debaixo da terra, é no nosso coração que arde a maldade. É essa consciência tranquila que é o nosso inferno, e o dos outros.
Deus nos livre de nós mesmo.

(Sérgio Vaz, poeta)

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