domingo, 18 de outubro de 2015

Intelectuais: para afrontar o golpe é preciso resgatar a esperança

 
Farley Menezes
Convocados pelo cientista político André Singer, um núcleo suprapartidário de intelectuais reuniu-se nesta sexta-feira no lendário prédio da antiga faculdade de filosofia da USP, na rua Maria Antonia, em São Paulo.

O histórico palco da resistência à ditadura retornou às origens para abrigar o protesto de personalidades, algumas das quais, como a filósofa Marilena Chauí, manifestaram a sua perplexidade por voltarem a um cenário onde, há 47 anos, lutou-se contra a opressão, tendo como contemporâneos alguns dos que hoje tecem a urdidura do golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff.
'É insuportável para a minha geração que aqueles que lutaram contra o golpe sejam os golpistas de hoje.', protestou com veemência a filósofa, num recado que muitos interpretaram como endereçado a cabeças coroadas do PSDB, como José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, entre outros que no passado combateram contra a opressão.

A espiral regressiva requer mais que a resistência ao golpismo, portanto. Requer avançar do ponto a que se chegou nas conquistas democráticas e sociais. Ou, como diz o manifesto apresentado pelos intelectuais na Maria Antonia: 'Não se trata de barrar um processo de impeachment, mas de aprofundar a consolidação democrática. Essa somente virá com a radicalização da democracia, a diminuição da violência, a derrota do racismo e dos preconceitos, na construção de uma sociedade onde todos tenham direito de se beneficiar com as riquezas produzidas no país. A sociedade brasileira precisa reinventar a esperança'

O escritor e jornalista Fernando Moraes, também presente, evidenciou nessa urgência a contrapartida de um salto mobilizador. Ele exortou os intelectuais a se unirem aos movimentos sociais na resistência ao golpismo em marcha, travestido de um impeachment à procura do seu pretexto.

Leia, a seguir, a íntegra do manifesto divulgado pelos intelectuais:

A sociedade brasileira precisa reinventar a esperança

A proposta de impeachment implica sérios riscos à constitucionalidade democrática consolidada nos últimos 30 anos no Brasil. Representaria uma violação do princípio do Estado de Direito e da democracia representativa, declarado logo no art.1o. da Constituição Federal.

Na verdade, procura-se um pretexto para interromper o mandato da Presidente da República, sem qualquer base jurídica para tanto. O instrumento do impeachment não pode ser usado para se estabelecer um “pseudoparlamentarismo”. Goste-se ou não, o regime vigente, aprovado pela maioria do povo brasileiro, é o presidencialista. São as regras do presidencialismo que precisam vigorar por completo.

Impeachment foi feito para punir governantes que efetivamente cometeram crimes. A presidente Dilma Rousseff não cometeu qualquer crime. Impeachment é instrumento grave para proteger a democracia, não pode ser usado para ameaçá-la.

A democracia tem funcionado de maneira plena: prevalece a total liberdade de expressão e de reunião, sem nenhuma censura, todas as instituições de controle do governo e do Estado atuam sem qualquer ingerência do Executivo.

É isso que está em jogo na aventura do impeachment. Caso vitoriosa, abriria um período de vale tudo, em que já não estaria assegurado o fundamento do jogo democrático: respeito às regras de alternância no poder por meio de eleições livres e diretas.

Seria extraordinário retrocesso dentro do processo de consolidação da democracia representativa, que é certamente a principal conquista política que a sociedade brasileira construiu nos últimos trinta anos.

Os parlamentares brasileiros devem abandonar essa pretensão de remover presidente eleita sem que exista nenhuma prova direta, frontal de crime. O que vemos hoje é uma busca sôfrega de um fato ou de uma interpretação jurídica para justificar o impeachment. Esta busca incessante significa que não há nada claro. Como não se encontram fatos, busca-se agora interpretações jurídicas bizarras, nunca antes feitas neste país. Ora, não se faz impeachment com interpretações jurídicas inusitadas.

Nas últimas décadas, o Brasil atingiu um alto grau de visibilidade e respeito de outras nações assegurado por todas as administrações civis desde 1985. Graças a políticas de Estado realizadas com soberania e capacidade diplomática, na resolução pacifica dos conflitos, com participação intensa na comunidade internacional, na integração latino-americana, e na solidariedade efetiva com as populações que sofrem com guerras ou fome.

O processo de impeachment sem embasamento legal rigoroso de um governo eleito democraticamente causaria um dano irreparável à nossa reputação internacional e contribuiria para reforçar as forças mais conservadoras do campo internacional.

Não se trata de barrar um processo de impeachment, mas de aprofundar a consolidação democrática. Essa somente virá com a radicalização da democracia, a diminuição da violência, a derrota do racismo e dos preconceitos, na construção de uma sociedade onde todos tenham direito de se beneficiar com as riquezas produzidas no pais. A sociedade brasileira precisa reinventar a esperança.

Assinam, entre outros:

Antonio Candido; Alfredo Bosi; Evaristo de Moraes Filho e Marco Luchesi, membros da Academia Brasileira de Letras; Andre Singer; o físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite; Ecléa Bosi; Maria Herminia Tavares de Almeida; Silvia Caiuby; Emilia Viotti da Costa; Fabio Konder Comparato; Guilherme de Almeida, presidente Associação Nacional de Pós-Graduação em Direitos Humanos, ANDHEP; Maria Arminda do Nascimento Arruda; Gabriel Cohn; Amelia Cohn; Dalmo Dallari; Sueli Dallari; Fernando Morais; Marcio Pochman; Emir Sader; Walnice Galvão; José Luiz del Roio, membro do Fórum XXI e ex-senador da Itália; Luiz Felipe de Alencastro; Margarida Genevois e Marco Antônio Rodrigues Barbosa, ex-presidentes da Comissão Justiça e Paz de São Paulo; os cientistas políticos Cláudio Couto e Fernando Abrucio; Regina Morel; o biofísico Carlos Morel; Luiz Curi; Isabel Lustosa; José Sérgio Leite Lopes; Maria Victoria Benevides, da Faculdade de Educação da USP; Pedro Dallari; Marilena Chaui; Roberto Amaral e Paulo Sérgio Pinheiro

sábado, 17 de outubro de 2015

USP vai entregar pílula contra câncer pelo correio






 
 
USP vai entregar pílula contra câncer pelo correio: Com câncer renal, a professora Alba Zilahi quer acesso à pílula, mas não pretende desistir da quimioterapia© Fornecido por Estadão.
 
 Com câncer renal, a professora Alba Zilahi quer acesso à pílula, mas não pretende desistir da quimioterapia.
 
Com o aumento da procura e a correria ao câmpus de São Carlos (SP), a Universidade de São Paulo (USP) resolveu enviar pelo correio a partir de agora a fosfoetanolamina sintética, substância que muitos pacientes acreditam ser capaz de combater o câncer. Com isso, os doentes beneficiados até agora por 742 liminares terão de aguardar a fórmula em casa. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica pretende apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a distribuição.
A procura ocorre no Instituto de Química de São Carlos (IQSC), que nesta sexta-feira, 16, divulgou um comunicado e uma cartilha com perguntas e respostas para orientar as pessoas. O material diz que ninguém deve ir buscar a substância no câmpus, mesmo quem obteve autorização judicial. “O IQSC será notificado da liminar por oficial de Justiça e encaminhará a substância via Sedex/AR no endereço constante na petição inicial. O serviço do correio será cobrado do destinatário”, diz a nota.
O instituto informa ainda que a encomenda “não é acompanhada de bula ou informações sobre eventuais contraindicações e efeitos colaterais”. E ressalta que “não dispõe de médico e não pode orientar nem prescrever a utilização da referida substância”. Também garante não possuir “dados sobre a eficácia no tratamento dos diferentes tipos de câncer em seres humanos”.
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Evanius Wiermann diz que a entidade pretende procurar o STF para tentar reverter a distribuição. “Estamos nos movimentando para tentar sensibilizar o Supremo Tribunal Federal (STF). O que nos preocupa é o uso de uma droga sem segurança comprovada. Essa situação está criando uma jurisprudência para que qualquer pessoa use uma substância que não tem comprovação científica.”

Polêmica

A fosfoetanolamina foi estudada pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, que era ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros. Na ocasião, segundo o IQSC, algumas pessoas chegaram a usar a substância como medicamento, o que era permitido pela legislação. Daí teriam surgido as primeiras informações de que a fórmula combateria o câncer.
Desde o ano passado, qualquer droga experimental somente pode ser testada com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um homem chegou a fabricar a substância em casa e acabou preso.
O instituto informou ainda que não distribui a fosfoetanolamina, porque a USP não assumiu a titularidade das pesquisas de Chierice. Entretanto, como tem capacidade de produção, o IQSC tem sido obrigado pela Justiça a fazer a droga sintética. A substância não foi testada clinicamente. O criador diz que chegou a acionar a Anvisa e não obteve retorno.
Já o órgão divulgou nota nesta semana para garantir que nunca foi procurado para qualquer análise.
Segundo Chierice, o organismo produz a fosfoetanolamina. “O que fizemos foi sintetizar isso, em alto nível de pureza e em grande concentração.” Ele tem a patente da fórmula no Brasil.
Diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Paulo Hoff afirma que os estudos clínicos são essenciais para que a vida dos pacientes não seja colocada em risco. “O estudo determina os efeitos colaterais, a melhor administração e as indicações de medicação. Isso vale para um antibiótico e para um remédio contra o câncer. É o que dá noção de eficácia e segurança para ser usado.”
De acordo com Felipe Ades, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, uma substância não pode ser considerada um medicamento sem que estudos em seres humanos sejam feitos. “Isto não é uma burocracia, ou uma exigência legal, isto faz parte do processo científico que visa a produzir medicamentos verdadeiramente eficazes”, disse Ades. “A fosfoetanolamina não é, atualmente, uma opção de tratamento contra o câncer”, concluiu.

Justiça

O assunto também chegou ao governo. Uma paciente de câncer abordou o governador Geraldo Alckmin durante visita ao interior pedindo para que liberasse a substância. Nas redes sociais, advogados se colocam à disposição de quem deseja pedir uma liminar.
O Tribunal de Justiça de São Paulo havia suspendido as liminares favoráveis à retirada da substância, a pedido da USP, mas depois liberou a distribuição, pois um paciente derrubou o veto no Supremo. O Estado procurou o Ministério Público Estadual, que informou não ter nenhum processo sobre o caso.

‘É a indústria do desespero’, diz oncologista

Gilberto Amorim, oncologista clínico do Grupo Oncologia D’Or, diz que abandonar o tratamento convencional para experimentar a fórmula da pílula de fosfoetanolamina sintética pode trazer sérios prejuízos aos pacientes. “As pessoas não sabem os efeitos colaterais e podem deixar de fazer um tratamento que vai ser curativo em troca da indústria do desespero.”
Foi a opção feita pelo analista de sistemas José Luiz Neves Morales Sanchez, de 49 anos, que desde terça-feira está tomando as cápsulas de fosfoetanolamina. Diagnosticado com um câncer na coxa em 2013, ele já foi operado, mas a doença atingiu os pulmões. Sanchez conheceu a substância em setembro deste ano e decidiu não iniciar um tratamento com quimioterapia para poder testar o produto.
“Foi a decisão da minha vida, porque eu acredito muito na substância. Conversei com pessoas que se curaram. Não vou fazer a quimioterapia, pois a cápsula trabalha com o sistema imunológico em boas condições”, diz. Ele afirma ter consciência de que não há comprovação científica de que o produto é eficaz, mas diz que não teme efeitos colaterais nem complicações. Mesmo assim, o analista de sistemas afirma que pretende fazer exames no próximo mês para verificar o progresso do tratamento alternativo. “Depois disso, vou tomar uma nova decisão.”
Nesta semana, mais mil pessoas chegaram a ir à USP em um único dia na tentativa de conseguir as cápsulas, sendo formadas filas e distribuídas senhas. A quantidade entregue a cada paciente é suficiente para cerca de 20 dias e a universidade afirma não ter condições de “produzir a substância em larga escala para atender às liminares”.
A professora Alba Zilahi, de 63 anos, já pensa em entrar na Justiça para conseguir a liminar. Ela tem um câncer renal que se espalhou para os ossos. “Estou fazendo tratamento desde 2012. Mas pretendo continuar a quimioterapia para ver como os dois tratamentos vão funcionar juntos.”


 
      
 

       

 

O ajuste ampliou a recessão, hora de mudar a política econômica

  Carta Maior
A discussão sobre o que está por trás do desajuste atual da economia brasileira, com crescimento negativo do PIB, inflação alta, desemprego, dólar e juros nas alturas, queda nos investimentos, entre outros indicativos nada animadores, é travada por diferentes correntes de economistas, além de assunto dominante em programas de TV e mesas de bar.

De forma resumida, há, de um lado, quem defenda que a recessão tem origem principalmente em erros na condução da política econômica dos últimos governos e o ajuste fiscal comandado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy seria uma tentativa de trazer a economia “de volta aos trilhos” e recuperar a “confiança” dos empresários. Essa é a “narrativa hegemônica”, disseminada na grande imprensa.

De outro lado, porém, há os que consideram que o ajuste se baseia em um erro de diagnóstico da situação da economia e é ele próprio o grande responsável por jogar o Brasil na recessão. Nesse grupo estão dezenas de intelectuais que lançaram, apoiados por sete instituições, entre as quais o Brasil Debate, o documento “Por um Brasil Justo e Democrático”.

O documento traz justamente propostas alternativas ao ajuste em curso e foi recebido com muitas críticas entre os economistas liberais. Porém, como aponta o coordenador do Brasil Debate Pedro Rossi, em artigo publicado no Valor Econômico em 15/10 (link), resultados da economia mostram que, após a “terapia de choque” do ajuste, houve uma piora drástica do cenário, com aumento da inflação e do desemprego.

Segundo Rossi, “independentemente de erros dos governos anteriores, parece claro que a virada de política econômica tem aprofundado a crise, como sugere o gráfico (abaixo)”.





De fato, aponta o economista, de janeiro a agosto de 2015, o gasto público primário se contraiu 2,1% em termos reais na comparação com o mesmo período do ano anterior, sendo que o investimento público foi a principal vítima dos cortes - caiu 45% em termos reais.

“Essa contração, simultaneamente ao desempenho ruim das demais variáveis de demanda (consumo, investimento privado e demanda externa), se mostrou pró-cíclica, aprofundou a recessão e contribuiu para a queda de 4,8% da arrecadação, no mesmo período”, explica.

Outra medida do ajuste que ajudou a formar o atual quadro recessivo foi a opção por uma estratégia de choque nos preços administrados, em detrimento de uma estratégia gradualista. Assim, segundo Rossi, da inflação acumulada de janeiro a setembro de 2015 (7,64%), 1,67 pontos percentuais devem-se diretamente ao reajuste de preços da energia elétrica, o que explica 22% do IPCA.

“Esse tipo de reajuste tem um alto grau de difusão em uma economia muito indexada na qual a formação de preços é extremamente oligopolizada e conta com um alto grau de repasses de custos para o consumidor”.

E um terceiro ponto do ajuste para o qual ele chama a atenção é a taxa de juros Selic, que subiu de 11% em outubro de 2014 para 14,25%. Com essa política monetária, o Banco Central trata a inflação brasileira como se fosse um problema de demanda em um momento de contração de demanda e de choque de custos. Essa contração monetária, além de ineficaz para reduzir a inflação, contribui para a recessão ao aumentar o custo do crédito, o custo de oportunidade para o investimento produtivo e, ainda, aumenta as enormes despesas do governo com juros, alcançaram 8% do PIB.

“Estamos piores do que no fim de 2014, quando se iniciou o ajuste com a alegação de que o crescimento viria pela recuperação da confiança dos agentes econômicos. De lá pra cá, a confiança dos agentes despencou e esse discurso perdeu aderência”, analisa.
Felizmente, há alternativas ao ajuste recessivo, o documento “Por um Brasil Justo e Democrático” defende uma agenda pró-crescimento, que repense a estratégia de política monetária, preserve e faça uso estratégico dos gastos públicos com maior efeito multiplicador e com efeitos sobre a competitividade e os estrangulamentos produtivos. É hora de mudar a política econômica!


terça-feira, 13 de outubro de 2015

Vibrações

Sinta no seu coração
As doces vibrações do amor
Experimente deslizar suas mãos
na corrente da solidariedade.

Doze países acabaram de selar um acordo secreto conferindo a algumas multinacionais domínio sobre mais de 40% da economia mundial. Para que se torne lei, porém, o Acordo de Parceria Trans-Pacífico precisa ser ratificado por todos os outros países. A boa notícia é que um grupo crescente de democratas e republicanos no Congresso dos EUA está na oposição, e precisam de um grande apoio público para deter esses planos.Assine agora e divulgue a campanha:


ASSINE JÁ
Caros amigos,

Doze países acabaram de selar um acordo secreto que confere poderes a algumas corporações para dominar mais de 40% da economia do mundo. Se a gente entrar em ação rapidamente, o Congresso dos Estados Unidos pode deter esses planos.
O Acordo de Parceria Econômica Estratégica Trans-Pacífico (TPP) é um monstruoso tratado de comércio global que pode vir a expandir maciçamente a censura na internet, além de tornar realidade o sonho da Monsanto e da grande indústria farmacêutica de lucrar muito mais. Entretanto, para que se torne lei, é preciso a ratificação de todos os países. A boa notícia é que um grupo crescente de democratas e republicanos no Congresso dos EUA está na oposição, e se o Congresso norte-americano disser não, esse acordo perigoso não terá futuro.
Por causa de nossa posição estratégica exclusiva, a Avaaz pode trazer ao debate vozes de todos os doze países signatários e do resto do mundo. Nossos aliados no Congresso podem contar com o enorme apoio público de que precisam para proteger nossas liberdades. Basta assinar a petição e ajudar na divulgação – ela será entregue diretamente ao Congresso norte-americano:

https://secure.avaaz.org/po/tpp_2015_loc/?biAzibb&v=66320

O TPP vai moldar vidas em todo o planeta – desde a América do Norte à Nova Zelândia, passando pelo Brasil – mas a maior parte do texto foi escrita secretamente por negociadores e indústrias interessadas, sem a participação do público. Só depois que o  Wikileaks vazou um trecho, tivemos uma pequena amostra do perigo:
  • Se um determinado país proibir o uso de produtos químicos tóxicos, rotular alimentos geneticamente modificados ou ainda endurecer regulamentações ambientais, o TPP dá às empresas poderes para processar o governo em painéis de arbitragem internacional secretos, comandados por mediadores corporativos. Se o governo perder, os contribuintes podem vir a ser forçados a pagar bilhões de dólares às empresas por prejuízos.
  • Sob TPP, empresas multinacionais farmacêuticas podem vir a estender seus monopólios de forma a prevenir o preço baixo de medicamentos que salvam vidas de pacientes com câncer e HIV.
  • O acordo pode vir a criminalizar pessoas que usem computadores para denunciar atividades corporativas ilegais.
Os trechos acima representam apenas uma pequena parte do acordo. A verdade é que não temos ideia alguma do que os lobistas corporativos escreveram na maior parte do tratado, uma vez que os governos se recusam a divulgar o texto para o público. Enquanto tratados de comércio podem ser importantes para uma economia global saudável, novas leis não devem ser forçadas sem que a população seja informada. Acordo nenhum deve ser elaborado tendo como prioridade os lucros de empresas e às custas do bem público.
Há anos a nossa comunidade tem lutado contra acordos desse tipo – e vencido. Nossos aliados no Congresso dos EUA acabam de nos informar “o negócio não está selado", mas disseram que, para detoná-lo, eles precisam de toda a ajuda pública possível. Vamos acabar com o controle corporativo de nossas democracias. Assine a petição e divulgue essa ação – precisamos agir juntos:

https://secure.avaaz.org/po/tpp_2015_loc/?biAzibb&v=66320
Diante das poderosas forças corporativas que comandam nossos governos, é normal se sentir impotente. Mas quando essas forças tentaram empurrar um acordo comercial que ameaçava a nossa liberdade na internet, quase 3 milhões de membros da Avaaz entraram em ação, sendo que o poder de nossa comunidade foi fundamental para interromper o acordo. Vamos vencer de novo agora e lembrar aos nossos governos que são as pessoas, e não o dinheiro, a verdadeira fonte de poder.
Com esperança e determinação,

Dalia, Nataliya, Alice, Mais, Emma, Danny e toda a equipe da Avaaz 


Fontes: 
O que você tem que saber do maior acordo comercial já feito (Exame)
http://exame.abril.com.br/economia/noticias/o-que-voce-tem-que-saber-do-maior-acordo-comercial-ja-feito 
TPP, o acordo entre 12 países que vai mudar as regras globais (Expresso)
http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-10-06-TPP-o-acordo-entre-12-paises-que-vai-mudar-as-regras-globais

Aprovação de mega-acordo comercial no Pacífico 'acende alerta para Brasil' (BBC)
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151005_acordo_comercial_jf_ab

Quem está elaborando o TPP? (Boston Globe) (em inglês)
https://www.bostonglobe.com/opinion/2015/05/11/elizabeth-warren-and-rosa-delauro-who-writing-tpp/2FQ...

Firmado acordo de parceria Econômica Estratégica Trans-Pacífico, resta escrutínio no Congresso (New York Times) (em inglês)http://www.nytimes.com/2015/10/06/business/trans-pacific-partnership-trade-deal-is-reached.html?_r=1

TPP: O que é e por quê é importante? (BBC) (em inglês)
http://www.bbc.com/news/business-32498715


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O desejo como antídoto para querer na sociedade de consumo

Rita Almeida
reprodução
Há quem pense que querer e desejar sejam a mesma coisa. Não são! Ao menos, não para a psicanálise.

O querer é uma enorme prateleira, o desejo uma tesoura. A operação matemática do querer é a soma e do desejo a divisão, nunca exata, sempre com resto. O querer é cumulativo, já o desejo, envolve escolha e perda.

A operação que rege e sustenta o sistema capitalista e, portanto, domina a forma de estarmos no mundo hoje em dia é o querer. Ao capitalismo interessa o acumulo de coisas; prateleiras cheias para vender, prateleiras cheias para comprar. Queremos mais um livro, mais um perfume e mais um sapato, não importa quantos já temos. Queremos mais uma especialização, mais uma viagem e mais 20 canais de TV, não importa que sentido tenham feito em nossa vida. Queremos mais um carro, mais um imóvel e mais bens, não importa o que isso represente para a coletividade humana e a sustentabilidade do nosso planeta.

Jacques Lacan ao construir sua teoria dos discursos faz menção ao que ele chama de Discurso Capitalista, que seria uma mutação pervertida do Discurso do Mestre. Enquanto o Discurso do Mestre se baseia na relação do senhor e do escravo – resgatado da dialética hegeliana – o Discurso Capitalista se dá pelo eclipse da relação entre os sujeitos. Em tal discurso, o sujeito não se relaciona com um outro, se relaciona apenas com os objetos–mercadoria. Tudo vira objeto a ser consumido, até mesmo os próprios sujeitos.

O agente do Discurso Capitalista é o consumidor, seu interesse é pelo consumo. Como diria Viviane Forrester, na sociedade atual consumir é nosso último recurso, nossa última utilidade. Somos clientes necessários à sustentação do modelo capitalista.

Mas consumidor é aquele sujeito que está sempre aquém, sempre em déficit, pois sempre haverá uma bugiganga, uma tecnologia, um bem, um saber e um modelo mais novo que ele ainda não conseguiu adquirir, portanto, o verbo que ele conjuga é o querer. Entretanto, o engano do consumidor não é se considerar incompleto, já que a incompletude é uma realidade irremediável para todos nós, mas sim acreditar que irá alcançar a completude por meio da aquisição de coisas; das coisas que ainda não tem.

Nesse sentido, o querer é uma armadilha, pois por mais que o sujeito adquira coisas estará sempre se sentindo em falta, e ao invés de aceitá-la, seu movimento é continuar a buscar no consumo, coisas que criem uma falsa sensação de completude. O querer é sempre mais, sempre sem limites. O querer funciona como negação da castração. No excesso de querer o sujeito se perde, pois perde a capacidade de fazer escolhas, e com isso, seu potencial singular.

Mas, e o desejo?

A psicanálise se sustenta sobre a ética do desejo. Ao contrário do querer, em que o sujeito quer tudo até que sua prateleira fique completa, o desejo implica em escolhas, portanto, em perdas. O desejo é uma tesoura, sendo assim desejar implica em fazer opções. Ou isso Ou aquilo, diria Cecília Meireles.

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

O desejo seria, portanto, um antídoto para intervir numa sociedade baseada no querer consumista. Desejar implica no sujeito admitir sua própria divisão, aceitar sua incapacidade de ter tudo. Desejar não é produzir um acúmulo de coisas, mas sim, definir o que é mais fundamental e importante. Desejar é cortar o excesso, é aceitar a perda de gozo, é escapar da mera sobreposição de bugigangas a fim de produzir singularidade e estilo.

Num mundo onde o imperativo categórico é que abarrotemos nossas prateleiras e que queiramos tudo, todo o tempo, utilizar a tesoura do desejo seria a verdadeira revolução.

* psicóloga, psicanalista, trabalhadora da Rede de Saúde Mental do SUS, blogueira, doutoranda em Educação pela UFJF

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ao eleitor do PT: um desagravo
Por Cynara Menezes
Não há ninguém, na atual crise de credibilidade por que passa o governo, que esteja recebendo mais bordoadas de todos os lados do que os eleitores do PT. Não me refiro exatamente à militância ou aos membros do partido, e sim aos cidadãos comuns que apostaram no PT ao longo dos últimos 26 anos, no mínimo, como a legenda capaz de tirar o País do atraso, da miséria, da desigualdade e do colonialismo. O eleitor do PT não tem nada a ver com este circo que se montou nos últimos anos, mas está pagando o pato assim mesmo. O que o eleitor do PT fez além de votar no PT? O nome dele não está em nenhuma investigação, ele não é alvo de delação premiada e não colocou as mãos nos cofres públicos nem para fazer caixa dois, até porque o eleitor é só um carinha que vota. No entanto, é chamado de “ladrão”, de “petralha”, é perseguido em passeatas, é espinafrado nas reuniões de família pelos parentes coxinhas e ridicularizado por velhos amigos nas redes sociais. Volta e meia é acusado de ganhar “pixuleco” do governo e até pão com mortadela para defender o partido, sendo que não é nem sequer filiado a ele.
"A mídia participa e coordena a campanha de difamação do eleitor do PT, ao pintá-lo como um ignorante sem estudo que só vota em quem vota por não saber o que faz, por ser do Norte/Nordeste — ou por receber dinheiro do governo"
Qual foi o erro do eleitor do PT? Do que pode ser acusado? De nada. Votou no PT assim como votaria em qualquer outro partido se acreditasse que seria o melhor para o Brasil. A maior qualidade dos eleitores do PT é justamente votar pensando não em si próprio, mas nos outros, em quem necessita mais das ações do Estado. Hoje, aliás, a única coisa que conforta o eleitor do PT é saber que pelo menos a promessa da inclusão foi cumprida. Que gente outrora pobre ascendeu à classe média; que mais negros e oriundos da escola pública entraram na universidade; e que já não tem tanta gente passando fome por aí como antes. Mesmo sabendo exatamente o que estava fazendo quando apertou o número 13 na urna, o eleitor do PT é chamado de “burro” por ter feito esta opção.
A mídia participa e coordena a campanha de difamação do eleitor do PT, ao pintá-lo como um ignorante sem estudo que só vota em quem vota por não saber o que faz, por ser do Norte/Nordeste — ou por receber dinheiro do governo. Foi graças ao preconceito de classe e de origem dos meios de comunicação para com o eleitor do PT que essa concepção de que a esquerda é capaz de vender sua ideologia por alguns caraminguás se disseminou na sociedade brasileira. Perdeu-se o respeito pelo que há de mais sagrado na política: o voto alheio. Ainda que fossem só os beneficiários do Bolsa Família os eleitores do PT, algo matematicamente improvável, este voto seria, ao contrário do que pregam, absolutamente consciente. Não existe voto mais consciente do que o de alguém que não tinha o que comer e que passou a ter comida na mesa: se isto aconteceu por causa de algum governante ou partido, é óbvio que vai querer continuidade.
Avanços sociais
Quem se sente feliz (e não incomodado) ao ver quem nunca estudou estudando, e quem nunca viajou de avião viajando, tampouco pode ser acusado de estar votan do iludido. Está votando porque acredita num determinado projeto de nação. Voto mais consciente, impossível. A situação começa a ficar até mesmo perigosa para o eleitor do PT. Outro dia um cara foi vaiado no avião por estar segurando uma revista considerada “simpática” ao PT. Uma senhora idosa foi chamada de “putinha do Lula” e de “vagabunda” por desafiar uma manifestação anti-Dilma em São Paulo vestida de vermelho.
Quem o cara do avião roubou para ser atacado? E a senhorinha de vermelho, pagou propina a alguma empreiteira? É perfeitamente compreensível a ira da classe média contra a corrupção. O problema é ser uma ira seletiva, contra um só partido, muito embora saibamos que quase todos participaram do butim e que quase todos estão afundados até o pescoço na lamentável forma como são feitas as campanhas políticas no Brasil. A oportunidade que se desenhava, desde o episódio do chamado mensalão, de “limpar” a política, se transformou, porém, numa cruzada para varrer o PT (e a esquerda) do mapa. Se não fosse assim, os pseudoapartidários das manifestações contra o governo também estariam perseguindo eleitores de outros partidos. Melhor ainda: não estariam perseguindo ninguém.
Da esquerda
Não bastassem os ataques da direita e da mídia, o eleitor do PT também sofre com os golpes desferidos pela esquerda. São chamados de “governistas” e acusados de concordar com todos os equívocos da atual administração federal. Alto lá! Votar em alguém não é assinar embaixo de tudo que a pessoa fizer. Votar é indicar um caminho e continuar lutando, pressionando para avançar. Sem pressão, os governos não chegam a lugar algum. Achar que haverá um governante com o qual concordaremos em tudo é uma fantasia. Mas o pior mesmo para o eleitor do PT é ser pisoteado, cuspido, perseguido e xingado, e não encontrar conforto na própria escolha que fez. Ser esculachado pela mídia, pela esquerda e pela direita não é nada perto da insatisfação crescente
do eleitor do PT com o governo que elegeu. O governo tem se esmerado em agradar aos mercados, aos banqueiros, aos latifundiários, aos empresários
e até ao PMDB, mas o que tem feito para agradar a seus próprios eleitores? O governo parece se esforçar, ao contrário, em desapontar quem votou nele. A tão esperada “guinada à esquerda” do segundo mandato de Dilma não se concretizou. Fala-se em um corte nos ministérios que irá atingir as pastas mais
caras a quem vota tradicionalmente no partido, como as secretarias de Direitos Humanos, das Mulheres e da Igualdade Racial. Dilma promete se juntar à defesa do imposto sobre grandes fortunas para acenar a este eleitorado mais fiel, mas este só acredita vendo.
Com tanto tiro, porrada e bomba, o eleitor do PT tem andado cabisbaixo, desenxabido, murcho. Muito menos pelos ataques que sofre por parte de gente cuja opinião não lhe importa a mínima do que pela falta de atenção que tem tido do próprio partido em que se acostumou a votar e que é, no final das contas, o principal responsável pela transformação deste eleitor num pária, num cidadão de terceira classe.


 Cynara Menezes é jornalista e editora do blog Socialista Morena (socialistamorena.com.br).