terça-feira, 30 de junho de 2015

JORGINHO

Jorginho
Ainda não nasceu,
Tá escondido, com medo,
No ventre da mãe.
Quando chegar 
Não vai encontrar pai,
Que saiu para trabalhar
E nunca mais voltou
Pra jantar.
No barraco em que vai morar
Cabem dois,
Mas é com dez
Que vai ficar.
Sem ter o que mastigar
Nem leite para beber
Vai ter a barriga inchada, 
Mas sem nada pra cagar.
Não vai para a escola,
Não vai ler nem escrever
Vai cheirar cola
Pedir esmola
Pra sobreviver.
Não vai ter sossego,
Não vai brincar.
Não vai ter emprego,
Vai camelar.
Menor carente,
Vai ser infrator
Com voto de louvor,
Delinquente.
Não vai ter páscoa
Não vai ter natal
Se for esperto, se mata,
Com o cordão umbilical.

(Sérgio Vaz é poeta e fundador da Cooperifa)

Nenhum comentário: