quinta-feira, 25 de julho de 2013

O ESTRAGO DA TELEVISÃO NA HISTÓRIA....

A televisão no Brasil é mais abrangente do que em outro lugar do mundo. Onipresente na cultura, no comércio e na transmissão. Não se trata de um instrumento tecnológico como a enxada ou a caneta; é uma mercadoria de elevado poder ideológico, no sentido de falsear  as coisas como toda ideologia.
A ocupação norte-americana é feita pela TV, tanto faz o canal, Globo, Record, TV Cultura etc.
A classe dominante é subalterna ao poder das multinacionais. Disso resulta a educação sentimental da telenovela, o que  faz com que não haja diferenças substanciais entre um Collor, um FHC e um Lula. A origem de classe social interfere muito pouco.
O neoliberalismo significa o triunfo da televisão no mundo inteiro. É tolice achar que Leonel Brizola não se deu bem com o medium TV enquanto tal, ao contrário de seu desempenho excelente no rádio à maneira de Orson Welles.
Se não fosse o golpe de 64, a televisão teria papel menos deplorável. Se o critério for estético e político, o único programa de nível na televisão foi o de Glauber Rocha intitulado Abertura.
Jean-Luc Godard informou: na metade do século XX, Nouvele Vague, a televisão rivalizou-se com o cinema. Rosselini, Renoir e Welles não eram então contra a televisão.
No Brasil a televisão ganhou impulso em meados da década de 60. A mídia do golpe não foi no entanto a televisão: 64 é um golpe dado pelo telefone, o que remete ao samba pioneiro e metalinguístico de Noel Rosa sobre o telefone e o amor.
Leonel Brizola sofreu o diabo por brigar com a TV hegemônica, que continuou como tal durante todos os regimes políticos.
Um Brasil socialmente justo e nacionalmente soberano conflitava com a existência de uma televisão anti-nacional e anti-popular. Todos os signos transmitidos eram anti-Brizola, a televisão se encarregou de debilitar o nacionalismo trabalhista.
Depois da morte do líder gaúcho, sumiu a contradição personificada entre a televisão e a emancipação nacional e aumentou a ofensiva multinacional.
A televisão detém a capacidade diabólica de tornar invisível a ocupação imperialista. Quase todos os políticos, os intelectuais, os artistas não têm o menor constrangimento com a indústria ideológica. A ocupação estrangeira é legitimada pela televisão que determina o Estado. Do marechal Castelo Branco a Dilma é sintomático: nenhum presidente governa sem o apoio da televisão colonialista.
Nada é pior que um país novo com amnésia, Godard tem razão: a televisão fabrica o esquecimento. O bom cinema lida com lembranças.
Texto de: Gilberto Felisberto Vasconcellos.
Jornalista, sociólogo e escritor.

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