sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A TELENOVELA VENCEDORA E O CINEMA VENCIDO

 A telenovela nascida em 1965 combateu o nacionalismo trabalhista de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. A telenovela tem sido a cocaína dos pobres, a mais valia ideológica do capitalismo videofinanceiro. Hoje a TV Globo pega no pé de Hugo Chaves como se fosse o Leonel Brizola, assim como tripudiava Evo Morales, o índio boliviano que revive Darcy Ribeiro.
Leonel Brizola, em 1989, não contou com Glauber que morreu em 1981. Aí vieram Roberto D'Avila e o filho de Barbosa Lima Sobrinho, ou seja, a estética do eurocomunismo liberal. Brizola ficou desprovido de uma estética anti-imperialista. D'Avila em termos de trabalhista era muito fraco do ponto de vista político e estético.
A vitória da Dilma não significa que a  burguesia tucana abdicou de exercer liderança nacional. Não se pode falar de uma eutanásia do tucanismo, não se deve esperar rachas no interior da classe dominante. Temer é o Sarney que faz a transição democrática aprofundando o modelo econômico multinacional da ditadura para fomentar as exportações multinacionais, não há diferença substancial entre o PMDB de José Sarney e o CEBRAP fegaceano. Darcy Ribeiro tinha razão: a classe dominante brasileira é solidária na defesa de seus interesses. Sarney é a burguesia de toga que auxiliou a governabilidade (para usar essa palavra obscena) de Lula, o qual sempre o manteve em águas mansas. Sarney indicou o Ministro das Minas e Energia em um país que detém a energia do futuro da humanidade: a biomassa vegetal.
A solidariedade com os Estados Unidos é a característica da burguesia bandeirante, assim o que é bom para os Estados Unidos é bom para São Paulo. O petucanismo paulistocêntrico acredita que o irmão neobritânico do norte vai dar força para o irmão latino do sul. Leopoldo Zea, o grande ensaísta mexicano, advertiu sobre o caráter irrealizável de uma amizade entre o norte da América e o Sul. No discurso das ciências sociais a gramática patriarcal alça voo respaldada pelo banco. A linguagem da burguesia servil é a do código eufórico-nacionalista-descolonizado de Guimarães Rosa e Glauber Rocha, para não mencionar o traço pagão orgíaco na antropologia de Darcy Ribeiro entusiasmada por Iemanjá, a única Deusa depois da Grécia que faz amor. A sociologia ceprapiana, paráfrase safada do marxismo, substituiu a palavra "burguesia" por empresário, assim como estigmatizou a palavra imperialismo, a qual não deveria ser usada por causa da conotação excessivamente emocional.
A palavra "imperialismo" é um truque dizia Roberto Campos), um bode expiatório para explicar a história do Brasil, assim tudo se resume nas contradições internas do país. Falar em imperialismo é preguiça mental, ressonância neurótica da mandioca, porque a mandioca dá sem trabalho. Roberto Campos atacou a mandioca e o nacionalismo anti-imperialista. A sociologia tucana retoma Roberto Campos em seu indisfarçável regozijo pela internacionalização da economia e o pluralismo pós-moderno: a dinâmica interna do país é mais importante do que os influxos externos.

Gilberto Felisberto Vasconcellos
Sociólogo, Jornalista e escritor

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