sexta-feira, 26 de setembro de 2014

'Erro do IBGE não é coisa de outro mundo', diz professor

Não há instituto de pesquisa no mundo que não tenha ido a público anunciar alguma correção, afirma Cláudio Dedecca, professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, especialista em mercado de trabalho. Dedecca é um dos integrantes da comissão de especialistas criada pelo Ministério do Planejamento para avaliar a Pnad 2013, após o erro comunicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira.
O IBGE está na berlinda?
Nos últimos meses foi se constituindo um olhar de desconfiança sobre o IBGE, do meu ponto de vista, não justificado. No primeiro momento, houve o questionamento da Gleisi Hoffmann (senadora do PT-PR, candidata ao Governo do Paraná) sobre a Pnad Contínua. Depois teve a greve. Depois veio uma ação do governo muito violenta, que foi o corte de orçamento. (O projeto de lei orçamentária para o ano de 2015 não contemplou duas pesquisas previstas, a Contagem da População e o Censo Agropecuário). Foi uma decisão equivocada do governo.
A credibilidade do IBGE está ameaçada?
Não há instituição no mundo que não tenho ido (a público) em algum momento fazer correções em dados divulgados. O BLS (Escritório de Estatísticas do Trabalho, órgão federal dos Estados Unidos) já fez várias vezes correções nos dados que divulgou. É ruim, é desagradável, é melhor que não ocorra, mas não é uma exceção, não é uma coisa do outro mundo. O IBGE é uma instituição importante, que precisa ser preservada.
Que resultado efetivo a comissão pode trazer?
A credibilidade não está em jogo por causa da correção realizada. O ponto é diagnosticar como é possível que esse tipo de turbulência não ocorra.
Por que a desigualdade de renda parou de cair?
A redução da desigualdade (de 2004 a 2011) foi determinada pelo mercado de trabalho e pelo aumento do salário mínimo. Como atrelei o salário mínimo ao PIB e, portanto, ele perdeu força em termos de ganhos reais, é lógico que a contribuição dele para o aumento da renda dos estratos inferiores declinou. Como também temos perdido capacidade de geração de empregos, também há uma contribuição menor para o aumento da renda com o aumento do emprego.
O baixo crescimento vai gerar desemprego?
Quando eu pego os dados, há flutuações que não são significativas, do ponto de vista estatístico, para revelar uma nova tendência ou alteração de patamar. Temos uma situação de paralisia, em determinado patamar, do desemprego. O nível de emprego também está se estancando.
E daqui para a frente?
No início do ano que vem, se a economia perder ainda mais força, abre-se claramente uma perspectiva de alguma demissão e de crescimento do desemprego. Agora, se houver sinais de que a economia poderá crescer de forma mais consistente, entre 2% e 3%, em 2015, com certeza o emprego tende a ter uma recuperação, não acentuada, mas de natureza mais consistente. Os dados atuais mostram que tudo parou.
Essa paralisia atinge o mercado de trabalho?
Do ponto de vista das empresas, fazer ajustes de emprego num cenário dessa natureza é muito complicado. Com o mercado de trabalho razoavelmente enxuto, se eu demitir e a economia voltar a crescer, recontratar vai custar mais caro. Já para contratar, só vou contratar naquilo que preciso. De tal modo, a economia brasileira está numa situação de compasso de espera. E essa situação se torna ainda mais tensa em relação ao período eleitoral, mas terminado o período eleitoral, seja quem ganhar, você passa por um rearranjo dos interesses que organizam a economia brasileira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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