terça-feira, 6 de outubro de 2015

SE A CLASSE MÉDIA ACORDASSE

A partir de 2016, 1% da população mundial, que soma hoje 7 bilhões e 200 milhões de pessoas, terá uma fortuna superior à renda dos outros 99%. A riqueza mundial atingiu, em 2013, US$ 241 trilhões. Isso significa que 72 milhões de pessoas terão, em mãos, 46% dessa fortuna, avaliada em US$ 110 trilhões. E a grande maioria da população mundial, 7 bilhões e 128 milhões de terráqueos, terá que sobreviver com os US$ 131 trilhões restantes.

Veja como esse mundo é injusto: se toda a riqueza da humanidade fosse dividida igualmente entre aproximadamente 7,2 bilhões de pessoas, cada um de nós teria um patrimônio de US$ 33.472 (ou quase R$ 80 mil). Todos possuiriam o suficiente para viver com dignidade e, portanto, não haveria fome, criminalidade, migrações, mendigos, favelas, mortalidade infantil e, possivelmente, nem guerras. Viveríamos em um mundo de paz e prosperidade.

Como a divisão dos 54% da riqueza mundial por 99% da humanidade tampouco é equânime, a desigualdade se produz. Aqueles que têm o suficiente para viver não querem saber de questionar os que integram o seleto grupo dos 1% mais ricos. Preferem achar que fazem parte desse contingente microscópico.

No Brasil, a renda familiar triplicou entre 2000 e 2014. Graças ao governo do PT, passou de US$ 7.900 para US$ 23.400 ao ano. Apesar disso, a desigualdade cresceu. No topo de 1% mais ricos do mundo, há 296 brasileiros.

É comum ver a classe média, que sobrevive com dignidade, ficar contra a distribuição de renda. Acha que traz perda de seus recursos. Não percebe que, com esta postura, em vez de ajudar a si própria, contribui com aquele 1% que se apropria da riqueza mundial.

A grande luta política e ideológica que a humanidade deve travar, hoje em dia, é convencer os setores que conseguem sobreviver com dignidade a se unir aos que não conseguem, para combater esse 1% que detém uma quantidade de recursos que, se fosse melhor distribuído, faria o mundo um lugar muito melhor.

Como convencer os setores de renda média que seus inimigos não são os mais pobres, mas, sim, o contingente microscópico que concentra aqueles US$ 110 trilhões? Não é fácil. O 1% em questão controla os governos, as comunicações, as igrejas e até o ensino escolar, de forma que faz a cabeça dos 99% desde a infância.

A miséria é humilhante. Causa revolta, estimula a criminalidade, provoca migrações, favorece o trabalho escravo, desagrega famílias, e leva algumas pessoas a optarem pela violência para conseguir o que não pode ser obtido com o trabalho, pois as condições de disputar bons cargos no mercado são absurdamente desiguais.

Frei Beto
Autor de Paraíso Perdido - viagens ao mundo socialista(Rocco).

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