domingo, 28 de dezembro de 2014

QUANTAS BÍBLIAS EXISTEM DE VERDADE?


Um novo livro está provocando polêmica nos círculos cristãos americanos. É Jesus, Interrupted (Jesus, Interrompido) ainda sem lançamento previsto no Brasil. Na obra o professor americano de estudos bíblicos Bart Ehrman afirma que cada um dos 27 livros do Novo Testamento apresenta versões conflitantes com os demais – e por isso cada volume tem uma mensagem própria e deve ser encarado como um livro à parte. O site Daily Beast publicou um trecho.

"As discrepâncias na Bíblia são importantes em parte porque nos forçam a encarar seriamente cada autor. O que Marcos diz não é o que Lucas diz; Mateus não concorda com João e ambos entram em confronto com as cartas de Paulo. Mas quando olhamos para as mensagens contrastantes dos diferentes autores bíblicos, há mais coisas envolvidas do que detalhes e minúcias. Há diferenças maiores entre os autores e os livros – diferenças não apenas em detalhes aqui e acolá, uma data, um itinerário de viagem ou o que cada um fez com quem.

Muitas dessas diferenças entre os autores bíblicos têm a ver com o cerne da mensagem. Algumas vezes a interpretação de um autor sobre uma questão maior entra em conflito com a de outro autor em assuntos vitais, como quem foi Cristo, como viveram seus discípulos e como a salvação foi alcançada.

Diferenças dessa magnitude não envolvem simples contradições pontuais, mas retratos alternativos da maior importância. É impossível enxergar esses recortes independentes se não permitimos que cada autor fale por si. A maioria das pessoas não lê a Bíblia dessa maneira. Para elas, como todos os livros da Bíblia estão em um mesmo volume, os autores falam basicamente a mesma coisa. O pensamento de Mateus pode ajudar a entender João, João fornece raciocínios para Paulo e assim por diante. Esse enfoque harmônico para a Bíblia, fundamental para a leitura devocional, tem a vantagem de ajudar os leitores a ver os temas unificados, mas também apresenta diversos pontos negativos, geralmente criando uma unidade onde não há.

A abordagem histórico-crítica da Bíblia não diz que cada autor tem sua mensagem. Apenas permite que cada um tenha sua própria perspectiva, sua própria visão, sua própria compreensão sobre o que é e o que deve ser a fé cristã. Essa abordagem parte do princípio de que o Novo Testamento, também chamado de Escrituras – ou seja, a coleção de livros colocados em uma única obra, em parte de forma autoritária – não é sua forma original. Quando Paulo deixou suas cartas para as igrejas que fundou, não pensou que estava escrevendo a Bíblia. Ele pensava que estava escrevendo cartas para as necessidades individuais que surgiam, baseadas em sua crença.

O mesmo cenário se deu com os Evangelhos. Marcos, seja lá qual tenha sido seu nome verdadeiro, não tinha ideia de que seu livro seria anexado a outros três e que o conjunto seria chamado de Escrituras. E certamente não pensou que seu livro seria interpretado sob a luz do que outros cristãos escreveriam 30 anos depois, em um país diferente, em um contexto diferente. Sem dúvida Marcos queria que seu livro fosse lido e entendido por si, como também o fizeram Mateus, Lucas, João e todos os outros escritores do Novo Testamento.

De acordo com o método histórico-crítico, há um risco em forçar a mensagem de um autor a ser exatamente a mensagem de um outro autor, em insistir em ler o Novo Testamento como uma obra fechada em vez de 27 livros distintos. Esses livros foram escritos em tempos e lugares diferentes, sob circunstâncias diferentes. Foram escritos por autores diferentes, com perspectivas, crenças, tradições e fontes diferentes. E muitas vezes apresentam diferentes pontos de vista para temas fundamentais.

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